D. Daniel: “Desafia-me muito o exemplo do Papa Francisco de chegar aos últimos”

Como acolheu esta nova missão que o Santo Padre lhe pede?
Ainda estou a tentar digerir a notícia. Para ser muito franco, nós começamos a ouvir boatos, mas achamos sempre que não passam disso, de boatos. Quando eu soube da nomeação, foi através do senhor Patriarca, no dia da reunião de vigários, no passado dia 2 outubro, que me chamou, no intervalo, e comunicou que o Santo Padre me tinha nomeado.
Estou em grande paz, porque toda a minha vida de padre – e isto não é grande mérito – procurei sempre fazer aquilo que a Igreja me pedia e confiar, depois, o resto ao Espírito Santo, sabendo que se a Igreja me pede, me confia, não me faltará também os bens e as ferramentas necessárias, da parte de Deus, para levar a bom termo essa missão. Tenho pensado se esta paz é fruto do Espírito Santo ou da inconsciência do que me tem pela frente – mas eu acredito que é do Espírito Santo! Nós confiamos no Senhor e Ele nos ajudará, mesmo sem saber ainda muito bem o que é que significa, em termos práticos, no dia a dia, esta missão de Bispo.
Neste momento, acolhi com confiança e estou disponível, sempre, como estarei sempre, à vontade de Deus, através da sua Igreja.

Referiu que já conversou com o senhor Patriarca. O que lhe foi pedido?
O senhor Patriarca simplesmente me comunicou que o Santo Padre me tinha nomeado Bispo Auxiliar de Lisboa, e depois procurou colher a minha reação e a minha disponibilidade. Eu renovei a minha disponibilidade, que é do dia da minha ordenação. Na altura, só me lembrei, de facto, desse ‘Sim’ na minha ordenação. Já passaram dois sucessores depois de D. António Ribeiro, que me ordenou, mas o compromisso e a promessa diante de Deus permanecem. Portanto, renovei o compromisso, como tinha prometido fazer no dia da minha ordenação, diante do senhor Patriarca.

Já escolheu o lema episcopal?
Isto é tudo tão recente… há uma série de perguntas que começam logo a fazer, mas tenham em conta que isto tem pouco mais de uma semana. Tenho pensado no lema, desde que soube da nomeação, em frases ou textos bíblicos que, para mim, sejam uma referência muito forte. O lema episcopal não é uma coisa que se crie, assim, de um momento para o outro. Posso dizer que há um salmo que eu gosto muito de rezar, que não aparece muitas vezes na liturgia das horas: é o salmo 87, que fala da cidade de Jerusalém e de todos os povos que têm aí as suas raízes, que têm a cidadania nessa cidade, e depois é dito, no final, que “todas as minhas fontes estão em ti”. E essa cidade representa a cidade de Jerusalém, mas é o símbolo da Igreja. Por outro lado, estas fontes são as fontes que encontramos nas chagas do Senhor. Há também um texto que eu gosto muito, e que estou a meditar, que é o texto da Samaritana. Portanto, será algo por aqui.
No ano missionário, vou procurar que o meu lema episcopal reflita também este ano, porque tem a ver com a minha história, também, porque estive muitos anos ligado ao Departamento de Ação Missionária do Patriarcado. Agora, tenho que pensar e rezar melhor, acima de tudo.

O senhor D. Daniel é um bispo nomeado pelo Papa Francisco. De que forma pode sintetizar este pontificado?
Sinto-me muito identificado com o Papa Francisco – mas também me sentia o Papa Bento XVI e com o Papa João Paulo II. Ainda hoje continuo a pegar muito nos textos e documentos do Papa Bento XVI para preparar as homilias. Mas este Papa, a sua proximidade, o nome que ele escolheu, Francisco – o Papa tinha bem consciência porque é que escolheu este nome –, tem a ver não só com a ecologia, mas, acima de tudo, tem a ver com esta reforma da Igreja que é necessário ser feita. Não temos de ter medo de usar a palavra reforma, daquela imagem de Cristo que diz [a São Francisco de Assis]: ‘Vai e reconstrói a minha Igreja’, e ele pensa que é a tal capela que está em ruínas, mas depois percebe que sua missão é muito mais do que pôr uma capela em ruínas em bom estado.
Sinto-me, de facto, muito próximo deste Papa. Entre tantos exemplos, acho muito interessante que algumas visitas apostólicas internacionais do Papa Francisco sejam a comunidades onde quase não há católicos. Países onde é quase residual a percentagem de católicos e ele vai lá, está lá. Ou seja, este cuidado com os últimos. Ele percebeu que há que chegar aos últimos, há que ir ao encontro das comunidades mais debilitadas, mais perseguidas, mais frágeis. O Papa não está, naturalmente, a voltar as costas àquelas grandes Igrejas que têm uma grande percentagem de católicos, mas está a cuidar dos últimos. Isto é uma coisa que me desafia muito também, até como Bispo.

entrevista por Diogo Paiva Brandão; fotos por Filipe Teixeira

 

  • A SAUDAÇÃO que o novo Bispo dirigiu à diocese:



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