Uma cronologia
A devoção à Senhora da Purificação apareceu no Norte de Portugal no século XI e foi-se espalhando para Sul com a reconquista. Por volta de 1070, já havia na diocese de Braga 15 igrejas que lhe eram dedicadas. A Oeiras deve ter chegado por volta de 1208, com a administração de D. Froila, chegado do norte com seus homens e foi adaptada desde então como padroeira desta terra.
Na inquisição de 1229 aparece em pleno funcionamento normal a igreja de S. Pedro de Barcarena, como as de Bucelas, Lousa, Loures, Celas, Fanhões, Montes e tantas outras desta zona. A de Oeiras também já existia certamente por esta ocasião, mas por ser dum reguengo não é mencionada na inquirição que se destinava apenas a igrejas que eram do padroado real e lhe podiam andar sonegadas.
Por 1256 o rei D. Afonso III doou ao seu conselheiro Pedro Nogueira a igreja de S. Lourenço de Lisboa com o Padroado do reguengo de Oeiras.
Em 1314 Oeiras já era uma “aldeia grande”. Em 1333 Pedro Gonçalves no seu testamento diz: “mando meu corpo enterrar dentro em a igreja de Santa Maria de Oeiras”.
Nesta data de 1333 ainda não existia o Hospital de Oeiras, que já tinha longa vida por 1500. Deve ter surgido depois da peste negra de 1348 com os seus sete foros, procedentes muito provavelmente de bens de famílias completamente desaparecidas com aquela epidemia.
Os séculos XVI, XVII e XVIII foram duma atividade intensa e memorável em Oeiras, quer sob o domínio social, quer cultural e religioso. Sabemo-lo pela muita documentação que nos chegou. Os séculos anteriores devem ter sido a génese desta vitalidade impressionante, mas não nos chegaram documentos que nos ajudem a vê-lo com clareza comprovada e datada, semelhante à dos séculos seguintes.
A atual igreja matriz foi construída de 1702 a 1744, sendo inaugurada incompleta em 7 de Setembro deste ano. Só foi considerada concluída em 1748, tendo levado, portanto, 46 anos a ser construída como o templo de Jerusalém.
O arquiteto régio João Antunes, que é o grande mentor do Barroco Português e o insigne arquiteto destes tempos, foi quem fez a planta desta igreja que, em nível artístico, é uma das mais importantes construções nacionais da época, sendo mesmo a primeira como exemplo de combinação harmoniosa e excelsa de pedrarias de várias cores, que eram a riqueza desta terra.
O grande impulsionador da sua edificação foi o fidalgo António Rebelo de Andrade, que a orientou pessoalmente e emprestou sem juros todo o dinheiro necessário ao bom andamento das obras, tornando-se, de forma inequívoca, o maior benemérito documentado e comprovado de Oeiras de todos os tempos.
Três datas a recordar cada ano
O dia 2 de Fevereiro: festa da padroeira Nossa Senhora da Purificação de Oeiras, ou Senhora das Candeias, ou Senhora da Apresentação, também referida em documentos desde 1333, de forma resumida, como Santa Maria de Oeiras.
O dia 27 de Setembro: data da dedicação, bênção e inauguração deste magnifico templo (em 27 de Setembro de 1744), pelo pároco de então o padre Francisco dos Santos Pereira, por delegação do Cardeal Patriarca de Lisboa D. Tomás de Almeida, que veio depois visitá-la pessoalmente quando já estava bastante concluída e registar a sua imensa admiração pela obra feita.
O dia 21 de Setembro: aniversário do falecimento de António Rebelo de Andrade, sepultado na capela-mor da igreja, falecido em 21.09.1763, fidalgo da casa real, cavaleiro professo da Ordem de Cristo (desde 1717), tesoureiro-geral da Bula da Cruzada (desde 1731), tesoureiro do um por cento do ouro e do produto do pau brasil (de 1741 a 1749), proprietário do palácio do Egito e da quinta das forras em Oeiras, “o maior benemérito comprovado e documentado de Oeiras de todos os tempos”, a quem a freguesia doou em gesto de gratidão para ele e seus sucessores, por escritura notarial de 1742, a galeria superior do lado sul deste mesmo templo para que pudesse assistir mais comodamente às celebrações litúrgicas.
Nota final
Um estudo aprofundado de toda esta matéria encontra-se nos livros do mesmo autor, Manuel Marques Ribeiro de Ferreira:
História de Oeiras: Volume 1 – A Paróquia de Nossa Senhora da Purificação de Oeiras (1147-1997). Edição da Paróquia de Oeiras, brochado, com 352 págs.
História de Oeiras, uma monografia (1147-2003). Encadernado, 672 págs. Roma Editora / Câmara Municipal de Oeiras, 2003.
O Hospital de Oeiras – a solidariedade oeirense ao longo dos séculos (c.1348-2004)